sexta-feira, 14 de agosto de 2009

É na estonteante melancolia dos dias que me faço o homem que sou.
Não é do delirante êxtase do top. Não piso na calçada do aconchego primordial mesmo após a "milenar" viragem da ampulheta.
Sou o resto de um jornal atrasado deitado ao chão num qualquer desabrigo.
Só quero ser lido, só quero ser pegado, só quero ser tomado.
Só quero o que ninguém sonha que quero. Porque afinal, não sou o que me vejo obrigado a transparecer.


Pedro Li
28 de Março de 2008

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Loucura num som

E a cada dia o som é mais forte. Penetra na minha cabeça vibrante. Berra-me e ressuscita em mim o rasgar da mordaça. Mastigo calmamente a cólera que me consome e tento segura-la. Sentado tremem me os musculos até à exaustão e não os controlo mais. Tenho um animal dentro de mim. Rasgo-me a carne amarrando-me de aço. Se assim não fosse, que seria do animal que contenho? Solto à sua propria sorte e desejo numa tentativa de alivio e matar de desejo.
A sede de musica feita de sangue. Sombrio... O que mais pode ser sombrio do que o que o Homem cria em si próprio...?
Arranco de mim o que sou a cada dia. Mas todos os dias sou. Quero quebrar o destino, correr num fio de navalha até à loucura. Mas e depois? Que tenho depois? O nada que já habituado consumo?
Cravo me de punhais. Não os sinto mais. Talvez porque os primeiros não foram por mim. A cada lua, a cada sol, um novo punhal disfarçado de rosa. E eu aceito, humilde. Dpois de vazio de mim mais uma vez choro. Choro porque sou humano, choro porque sou consciente, choro porque sou louco.
Escrevo abstacto, ou aparento escrever. A abstracção que segrego é a objectividade do real na sua forma perfeita. Tirem a prova. Enlouqueçam amanhã, que hoje compete-me a mim. Enlouqueçam amanhã e descubram a forma perfeita. Loucura! Que loucura deliciosa que de carne e sangue feita é complemento da mente complexa que me deu a Natureza. Cabe-me a mim usá-la. Mas estou condicionado. Não sou um sujeito sem meio nem o meio me é alheio... Chega de paleio...
Enfim..
Loucura num som


Pedru Li
21 de Abril de 2008

sábado, 18 de julho de 2009

Só Solidão


Não sei se de magia de condão,
Se de riso e paixão,
A analogia que as envolve é mais que una e só.
Voa o som do murmuro remexendo o pó.
Das memórias gritam saudosas carícias nostálgicas ressuscitando a dor.
Cravo-me sem pudor.
Dispo-me do tédio e entrego-me na ilusória mão.
Mas em vão. Não é mais que o que é, é apenas ilusão.
Grito ao meu ego bem fundo na dor impertinente
Que persistente me devolve ao fiel leito de nostalgia demente.
Sem ilusão mais no invés do fio da navalha resta-me um gume e a parede.
Bebo de mim o que esvaio então.
Sei, no momento em questão, que nada mais se presta idulaterável senão a solidão.

Pedru Li 22 de Março de 2008